sábado, 26 de setembro de 2009

GUERRA CIVIL

Em 1245, quando o rei português Sancho II é declarado pelo Papa incapaz de governar, «rei inútil», Paio Peres Correia está ao serviço de Castela. O mesmo Papa nomeia para curador e defensor do reino o Conde de Bolonha, irmão de Sancho II. Quando este desembarcou em Lisboa, em fins de Dezembro de 1245, acorreu a recebê-lo o subordinado de Paio Peres Correia, Gonçalo Peres Magro, comendador de Mértola. Vão seguir-se três anos agitadíssimos de guerra civil. O rei de Castela, Fernando III, e o seu herdeiro apoiarão Sancho II. Paio Peres Correia acatará as instruções papais, recusando-se a apoiar quem não governava e colocando o seu prestígio ao serviço do Conde de Bolonha. Outro tanto terão feito diversos membros da família Correia, alguns dos quais eram companhia constante do Mestre de Sant’Iago nas lides da reconquista.
Por fim, Sancho II, exilado em Toledo, morre em 1248.
O pouco escrupuloso Afonso III, apesar de casado com Matilde de Bolonha, por quem recebera o título de conde, negoceia um escandaloso casamento com uma bastarda do infante de Castela, ainda criança. E o caminho para a pacificação entre os dois Afonsos peninsulares. Uma pacificação que não vai ser definitiva tão cedo e para que há-de ser chamado a dar o seu contributo o Mestre de Sant’Iago.

De novo no Algarve

Henrique David e José Augusto P. de S. M. Pizarro são de opinião que, logo no ano que se seguiu à tomada de Sevilha, Paio Peres Correia se teria encontrado ao lado de Afonso III, quando da conquista de Faro, em acordo, de resto, com o que ensina a Crónica da Conquista do Algarve. A resolução definitiva das reivindicações comuns dos dois reis Afonsos sobre o Algarve ocorreu apenas depois da submissão de Niebla, quando Afonso III, já genro de Afonso X, lhe envia a Sevilha o infante herdeiro, Dinis, de quatro anos. Paio Peres Correia fez parte da equipa que em Abril de 1263 estudou e deslindou em definitivo a situação.
Mas o Algarve vai ser ainda preocupação de Paio Peres Correia quase até ao termo da sua vida. De facto, seguindo uma política de libertar a Algarve de toda a ingerência de Castela, Afonso III conseguiu que a Ordem de Sant’Iago renunciasse, em 1272, aos seus castelos de Tavira, Cacela e Castro Marim, aparentemente sem contrapartidas. Tenha-se em conta que em Portugal não havia mais terreno mouro a reconquistar e que a sede desta Ordem era em Castela. Paio Peres Correia é quem assume a renúncia, como consta do respectivo documento, datado de 7 de Janeiro 1272, e que é uma Carta de Renúncia da Ordem de Uclés feita a El-Rei sobre Tavira, Cacela e Castro Marim com seus termos.[1]

[1] É esta a carta:
Carta Renunciationis Ordinis d’Ocles facte domino Rege super Tavira Caçala et Castro Marim cum suis terminis.
Noverint universi presentem cartam inspecturi quod nos domnus Pelagius Magister Ordinis Milicie Sancti Jacobi et Johannes Reymondi Comendator de Cacem et procurator Capituli eiusdem Ordinis nomine nostro et Ordinis supradicti renunciamus donationibus super Tavira Caçala Castro Marim cum terminis suis nobis a regibus Portugalie factis vel a quocumque alio si fieri potuerint et confirmationibus a domino Papa vel ab aliquibus aaliis super predictis locis factis et omnibus instrumentis litteris juribus actionibus nobis et Ordini super supradictis locis quoad temporalia competentibus et promitimus sub pena decem milium marcorum puri et examinati argenti prout in sententiam lata per viros predictos et discretos dominum Gomecium dictum Legum canonicum Zamorensem religiosum virum fratrem Geraldum doctorem Fratrum Predicatorum Ulixbonensem et Dominicum Johannis canonicum Elborensem plenius continetur nos nec Ordinem nostrum non venire contra dictam sententiam nec contra aliquem articulum de his que in ipsa sentencia continetur retento tamen nobis et Ordini nostro jure patronatus in locis omnibus supradictis.
Datum Ulixbone VII die Januarii Era Mª CCCª X.

Fr. Diogo Brandão, Monarchia Lusitana, IV parte, apêndice.

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